Você se vai e minha memória vem. A primeira de todas? Copos da Pepsi. Eu tinha uns cinco anos quando pintaram esses copos na minha casa, um pra mim e um pra minha irmã. Não me lembro se o copo era seu ou da Tina Turner, mas o fato é que para criança que eu era aquele copo era “do Michal Jackson”. Nessa idade refrigerante em casa era só em dia de festa, e a festa maior era usar aquele copo. Você sabia que copos assim existiram? Pois é, a galera do marketing esqueceu de te contar.
Segunda lembrança? Moonwalker, não o filme, mas o jogo, de Master System. Eu nunca consegui zerar ele, mas ia longe, chegava no último chefe, agora o de Mega Drive eu zerei, duas vezes, e era bem melhor, os 8 bits a mais faziam toda a diferença na hora de você dançar, as músicas eram mais empolgantes, eu jogava batendo o pé. Adorava.
Terceira lembrança e mais cultivada: zumbis. Meus monstros favoritos, graças as fases do cemitério (acho que era a terceira) e ao clipe de Thriller, que vi mais velho, num repeteco do Fantástico na ocasião de uma vinda sua ao Brasil para shows, acho que em 1993. Vi o clipe e alucinei com os mortos vivos, e olha que eu estava num delay absurdo de uns 8 ou 10 anos em relação ao mundo. Por aqui não havia MTV em canal aberto e não existiam o Youtube, nem internet e nem computador.
Nessa idade eram você, o Beto Carrero, a Madonna e os Trapalhões meus astros pops mais recorrentes. Não sabia muito bem o que era show e o que era bizz, não sabia o que queria dizer abuso sexual infantil, mas tinha certeza que só por você brincar com um macaco e ter uma onça de estimação te faziam genial (e eu nem sabia que na verdade você era um cantor)! O tal do Rancho Neverland também causava certo frisson em mim, mas confesso que quando cresci e entendi toda a história achei meio besta, mas aí eu já tinha sacado que você era um cara à parte.
Pirei muito com o Macaulay Culkin tocando guitarra e você virando uma pantera em Black and White, e claro, vivi dias de emoção quando você esteve gravando um clipe na Bahia e no Rio. Eu ia para a aula e ficava pensando em como devia ser legal estar nesses lugares acompanhando essa bagunça. E quando eu fiquei mais mocinho e vi que ainda tinha o Spike Lee dirigindo a bagaça, dei mais moral, mesmo o clipe sendo aquela farofa horrorosa.
Por fim você sumiu, decaiu, pirou, se recolheu, teve filhos, foi comido pela filha do Elvis, depois deu pra uma enfermeira que era um canhão, vestiu seus meninos de Prince of Pérsia, virou documentário risível, etc, etc, etc.
Meu maior horror foi ter ficado velho e visto a covardia que fizeram com você. Menino talentoso, sensível, com um bom futuro. Te embriagaram de sucesso, te deram o reinado ridículo do Pop, te transformaram em comunista-nazista-psicótico-
Te impediram de ser gay, te pintaram de branco, deformaram seu rosto, dissecaram sua vida, afastaram você dos outros, da sua família, dos seus amigos, do seu passado, do seu futuro, romperam sua ligação com o mundo e bum! acabaram com suas referências e você virou o monstro inumano(exagero meu) que conhecemos por fim.
Bom, você vai embora numa época em que sua figura era só piada, mas relaxa que no final a imagem que sobrará é a do gênio. Não vou falar das suas músicas, discos e feitos, disso todo mundo já está falando.
Fica o carinho por fazer parte da minha memória afetiva, e além disso, fica a homenagem de milhares Maicos, Maicons, Mixaels, Maycos, Michaels e Mychaels, brasileiros anônimos batizados assim por sua causa.
Sempre amarei sua música, mas nunca te perdoarei pela Lattoya, Janet e os 3Ts!
Um comentário:
Caraaalho, muito bom o post.
Diferente de todos os outros que já tinha lido.
Uma homenagem aparentemente sincera.
Parabéns!
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